António Nobre, o poeta que descreveu o real com afeto e minúcia, é conhecido pela sua obra “Só” (a única publicada em vida) e que o definiu como um autor fortemente influenciado pelos movimentos do Decadentismo e do Simbolismo.[1]
Nasceu a 16 de agosto de 1867, no Porto, mais precisamente na rua de Santa Catarina, nº469, freguesia de Santo Ildefonso, sendo filho de José Pereira Nobre, natural da freguesia de Borba de Godim, Lixa, e de Ana de Jesus e Sousa, natural do Seixo, freguesia de S. Mamede de Recesinhos (atual concelho de Penafiel).
O lugar do Seixo e a casa de família, localizados na fronteira entre a freguesia de S. Mamede de Recesinhos e de Vila Meã, sempre integraram o universo sentimental de António Nobre. Aqui passou longas temporadas durante a infância e a juventude e, era aqui que também regressava para “recompor-se dos seus insucessos escolares, em Coimbra” (Queirós, 2008, p. 19). Anos mais tarde recorria a este seu refúgio em busca de ares puros que o ajudassem a recuperar da tuberculose pulmonar que lhe foi diagnostica em 1892[2].
Nobre procurava estes lugares perfumados de memórias para repousar, mas também para escrever os seus versos e as suas cartas. Toda a ambiência rural e as paisagens naturais envolventes à casa da família no Seixo marcaram o ritmo da sua poesia e rechearam-na de pormenores descritivos sobre as personagens que por aqui habitavam, as casas que frequentava, as romarias que assistia (Nossa Senhora das Dores em S. Mamede Recesinhos; Senhora Aparecida em Vilar de Torno; Nossa Senhora das Vitórias, na Lixa), os sons e os aromas tão característicos destas terras e que guardava permanentemente na sua memória.
Por estas paragens o poeta terá percorrido os lugares de Linhares, Casal e Devesa, mas também frequentava Vila Meã, onde, por vezes, desembarcava na estação de comboio e onde se alegrava em bailes e piqueniques pelas Casas do Carvalho e de S. Brás (Queirós, 2008, p. 39).
Que noite de Inverno! Que frio, que frio!
Gelou meu carvão:
Mas boto-o à lareira, tal qual pelo Estio,
Faz sol de Verão!
Nasci, num Reino d’Oiro e amores,
À beira-mar.
Ó velha Carlota! Tivesse-te ao lado,
Contavas-me histórias:
Assim… desenterro, do Val’ do Passado,
As minhas Memórias.
Sou neto de Navegadores,
Heróis, Lobos d’água, Senhores
Da Índia, d’Aquém e d’Além-mar!
(António Nobre. António in Só, 1892)
Deixamos-lhe o convite para que venha conhecer os lugares de inspiração do poeta António Nobre.
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Nobre, A. (1998). Só. Moderna Editorial Lavores. (1ªedição do Só, impressa em Paris em 1892)
Queirós, A. (2008). Viajar com… António Nobre. Direção Regional da Cultura do Norte.
Sofia Mesquita,
Stay to Talk Instituto de Imersão Cultural