“(…)
O sítio onde chegara, tinha o nome
De Marãosinho; ali principiava
A Montanha sonhada e prometida,
E a terra bôa e culta ali findava.
As arvores mudavam-se em rochedos,
Como as Nymphas em arvores . . . estranhas,
Duras metamorphoses provocadas
Pelo poder oculto das Montanhas . . .
A ervinha tenra em urze dura e seca,
Por castigo talvez, se convertia . . .
a ondulação suave dos outeiros,
Sob a força de ignota ventania,
Para nós insensível, mysteriosa,
Turvava-se a distância; e nevoenta,
Como as marinhas ondas, alterosa,
Em píncaros subia para o sol.
(…)”
(Teixeira de Pascoaes, Chegada de Marânus à Montanha in Marânus, 1920, p.53)
O que seria de Teixeira de Pascoaes sem o Marão?
Não seria com certeza o mesmo poeta saudosista e místico. A esta serra Pascoaes dedicou grande parte da sua poesia e muito do seu tempo. Por ela terá percorrido caminhos infindáveis e emprestado o seu olhar solitário às rochas e árvores.
Neste cenário serrano poderemos destacar dois lugares essenciais para o poeta: Gatão e Travanca do Monte.
No nosso último artigo sobre os lugares de Pascoaes debruçamo-nos sobre Gatão e o centro histórico de Amarante e, agora deixamos a sugestão para que venha conhecer Travanca do Monte.
Aceita a nossa companhia?
Na transição da serra do Marão para a serra da Aboboreira avistamos a pacata localidade de Bustelo, local frequentado por Teixeira de Pascoaes durante a sua infância e em certos períodos da sua vida adulta. Nesta freguesia, mais precisamente no lugar de Travanca do Monte, a família do poeta tinha uma propriedade, designada casa da Levada. Casa essa que, atualmente, permanece na família e abre as suas portas ao público como alojamento local.
Travanca do Monte “fica assente num pequeno patamar, onde finda a terra cultivada e começa o escalvado da Aboboreira” (Coelho, 1967, pág.22).
Ao lermos os versos de Marânus inicia-se um serviço de teletransporte para as encostas do Marão, para as estreitas ruas das aldeias serranas e para a paisagem inconfundível desta serra. Ainda hoje Travanca do Monte revela-se um lugar sereno, pontuado por estruturas vernaculares que teimam em permanecer, sobrepondo-se à ação do tempo e ao abandono. Já não será aquele espaço que Pascoaes percorreu a pé por diversas ocasiões, o desenvolvimento económico e social permitiu o progresso e a melhoria das condições de vida das comunidades rurais. No entanto a paisagem serrana, forte em rochedos, arvoredos e linhas líquidas, sinais de uma natureza frondosa prevalece e ajuda-nos a compreender o fascínio ou mesmo a paixão que Teixeira de Pascoaes nutria pelos elementos naturais.
Tal como o poeta todos temos uma casa, à qual recorremos em momentos específicos, seja para descansar, refletir, conviver… A casa da Levada seria um espaço de contemplação, solidão e introspeção para o poeta filósofo, a partir desta localização projetava-se para espiritualidade da montanha, levando-o para uma abstração, por vezes, fantasmagórica (Ferraz, 2016).
Gostaria de conhecer o belo que a poesia de Pascoaes liberta?
Chegou o momento de vivenciar de forma imersiva os lugares peculiares deste poeta amarantino. Preparamos para si um roteiro personalizado, onde sentirá, através das palavras de Teixeira de Pascoaes, a alma dos lugares e suas gentes.
Coelho, J.P. (1967). Obras Completas de Teixeira de Pascoaes – Poesia. Vol.I. Livraria Bertrand
Ferraz, R. (2016). Teixeira de Pascoaes Revisitado: um ensaio sobre literatura e ausência. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Brasil.
Teixeira de Pascoaes (1920). Marânus. Porto. Typ. Empresa Guedes.
Sofia Mesquita,
Stay to Talk Instituto de Imersão Cultural