Ao lermos as obras de Agustina Bessa-Luís deambulamos entre o espaço urbano e o ambiente rural, realidades vividas pela autora em diferentes momentos da sua vida.[1] Por estes cenários observou como ninguém os comportamentos humanos e as dinâmicas sociais inerentes a cada um deles, mas seria pelo campo que encontraria o alimento para a sua escrita.
O campo dentro da sua tranquilidade aparente pode figurar-se como um enredo extremamente rico nas relações interpessoais, nos costumes e nas dinâmicas socioculturais. A dureza que, por vezes, encontramos nestes locais atribui a quem neles vivi um pragmatismo, mas também uma disputa de poder pela propriedade agrária e por tudo que dela advém.
Este foi o cenário perfeito para Agustina estruturar o enredo de “A Sibila” (1954). Um romance onde o poder da terra e da ruralidade vibra em cada folha, transportando-nos para paisagens reais e personagens com um toque de verdade. A Mulher e a sua capacidade de gerir um património, diga-se casa e propriedades agrícolas, é o ponto fulcral que nos elucida ou nos faz refletir sobre as estratégias usadas por um grupo de mulheres na gestão de uma teia de relações familiares e na negociação com diferentes elementos externos ao lar.
“(…) Maria, e logo depois Quina, litigavam como se jogassem. A primeira ficava reduzida a um farrapo, cegava-se estorcia de paixão, morria e revivia a cada contestação e a cada minuta. Esquecia a razão, e arruinava-se prazenteiramente até ao último ceitil; até ao último momento esperava vencer e recuperar tudo, e, se lhe explicavam miudamente as impossibilidades desse resultado, não compreendia. Quina era diferente. Tinha grande fé nas artimanhas dos velhos advogados, achava que sempre, sem exceção, se pode iludir a lei. Cultivava-se em coisas de foro, fazia-se importuna, corria de um juiz a um influente e deste a um delegado, agia de modo próprio, desejava precipitar o lento esmoer da burocracia judicial, comprava testemunhas, impunha teorias, desprezava os legistas que não a favoreciam, e considerava letra morta os seus artigos. Era, enfim, calamitosa e insuportável. (…)” (Bessa-Luís, 2019, p.43).
É na Quinta do Paço, em Travanca, que sentimos a deixa, a descrição mais pitoresca e o deambular das personagens pelas levadas. Terá sido aqui que Agustina encontrou o cenário, vivido por ela na primeira pessoa, enquanto casa dos seus avós paternos e das suas tias, para uma das suas grandes obras literárias.
Quem percorre os carreiros que antecedem o lugar do Paço, onde se sente o trepidar do comboio ao longe, compreenderá melhor Quina, Francisco Teixeira, Germa e até mesmo Agustina, mas também sentirá a presença da água que corre no riacho ou que desemboca no tanque próximo da eira.
Chegou o momento de conhecer todos estes espaços?
Acreditamos que sim!
Por isso propomos-lhe um Roteiro Literário dedicado à vida e obra de Agustina, bem como à história que se encerra por trás das pedras que compõem o património românico da região.
Venha connosco descobrir os lugares peculiares desta grande escritora amarantina que entre muitas das suas sábias e audazes palavras diz:
“A história é uma ficção controlada.”
Programa do Roteiro Literário:
Data: 22 de julho de 2023
Horário: 10h00 – 18h00
10h00 – Visita Guiada Centro de Interpretação do Românico – Lousada
11h30 – Mosteiro de Travanca
13h00 – Almoço Livre ou Almoço Literário
15h00 – Igreja do Salvador de Real
17h00 – Lanche Tradicional com Letras
Inscrições obrigatórias, disponíveis através do seguinte link:
https://forms.gle/ViwNKfbjZ4GWBd5aA
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Bessa-Luís, A. (2019). A Sibila. Relógio D’Água Editores. 34ª edição.
Sofia Mesquita,
Stay to Talk Instituto de Imersão Cultural