Os Nossos Pintores

Teixeira de Pascoaes e Amadeo de Souza-Cardoso – Memória e Futuro

O que pensamos nós do futuro?

A palavra e o conceito “futuro” estão na ordem do dia como uma temática urgente e com necessidades especiais que exige atitudes no presente.

Hoje falamos do futuro, pois o Mundo é impelido a pensar cada vez mais na qualidade de vida, nos efeitos que o progresso tecnológico irá provocar na ordem social, na alteração das relações humanas e, de um modo geral, no questionamento do nosso propósito de existência. Mas para além do futuro torna-se cada vez mais pertinente preservar a memória: a memória colética enquanto comunidade e a memória individual, aquela que também tem quota parte na essência de cada um.

Memória e Futuro dois conceitos que não deverão ser dissociados.

Olhando para os nossos poetas, escritores, pintores – aqueles que trabalham o invisível – poderemos destacar dois exemplos que temos vindo a relembrar consecutivamente na Rota dos Artistas. Dois casos singulares e marcantes na literatura e pintura portuguesas, podendo mesmo arriscar afirmar, com impacto internacional. Dois vultos que trabalharam a memória e o futuro de maneiras distintas tendo em conta o seu percurso pessoal, mas também a envolvência familiar, cultural e paisagística.

Neste mês de novembro celebramos os aniversários do poeta Teixeira de Pascoaes (02/11/1877-14/12/1952) e do pintor Amadeo de Souza-Cardoso (14/11/1887 – 25/10/1918). Tanto um como outro partilharam a mesma cidade natal – Amarante, assim como outros atalhos mais conhecidos por aqueles que cavalgavam ou caminhavam entre Manhufe e Gatão. Amadeo mais adepto do cavalo, elemento que representou com frequência nos seus quadros, e Pascoaes mais apreciador do ritmo contemplativo de uma boa caminhada.

Pascoaes é o poeta filósofo, autor do Saudosismo e da reflexão metafísica sempre desconcertante. Com ele vamos conhecendo ao pormenor os encantos e os recantos mais obscuros da infância, a ânsia indomável da juventude, a insatisfação da vida adulta e a transcendência da velhice. Tal como afirma Franco (2023) “(…) Tudo na sua longa vida e na sua vasta obra parece obedecer a esse impulso genesíaco de volver a uma origem perdida que tanto pode ser a infância original de todos os encantamentos primeiros, o reino de todos os poderes primordiais onde por uma vez se é príncipe do mundo, como o paraíso intemporal de todas as glórias esquecidas, o jardim das delícias da História que está afinal sempre aquém ou além dela.”[1]Um poeta que recordava constantemente o passado, mas vivia com uma ânsia permanente de viver o futuro, deambulando entre ambos ao longo da sua vida e da sua escrita.

Amadeo é um dos grandes artistas do modernismo português. Nasceu num meio rural, no seio de uma família aristocrática muito ligada às tradições, aos costumes e à religião. Desde cedo revelou-se rebelde e inconformado, com “(…) uma natureza voltada para a ação imediata (…)”, onde “(…) o impulso para a conformidade não operava nele de maneira suficiente para que ficasse submetido aos sentimentos da coletividade e aos seus costumes.” (Bessa-Luís, 2008, p.16).

Um artista multifacetado que explorou várias técnicas, misturou-as e não se rendeu em nenhuma em específico, no entanto o movimento ou a sensação do mesmo é algo muito característico na sua obra. Um dinamismo, uma velocidade que se enquadram na vertente futurista e nos ideais do Manifesto Futurista. Em boa verdade Amadeo em declarações ao Jornal “O Dia” assumiu “(…) a sua “paixão pelo movimento, pela velocidade, pela febre da vida moderna”(…).[2] Mas também é certo que o pintor recorreria constantemente à(s) sua(s) memória(s) dos ambientes e dos contextos socioculturais de Amarante para introduzir elementos, figuras, cenários há muito existentes, porém acabavam por adquirir novas formas, tendo em conta as técnicas artísticas usadas, e que alcançaram uma projeção ainda hoje em estudo e que, provavelmente, só será compreendida num futuro.

Nas palavras de Almeida[3] “Amadeo é um paradigma do isolamento, da solidão do criador, mas em situação paroxística, porque ao mesmo tempo interior e exterior. Que se pode rever apenas em idênticas aventuras de isolamento, como foram as de Orpheu ou a procura de um sentido mítico do ser português, igualmente solitária, dessa cruzada metafísica conduzida pelo seu genial amigo e vizinho de Amarante, Teixeira de Pascoaes.”

Deixamos-lhe o convite e porque não aceitar a companhia do Stay to Talk nos vários passeios artísticos e literários que preparamos para si.

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Bessa-Luís. A. (2008). Dicionário Imperfeito. Seleção e Organização Manuel Vieira da Cruz e Luís Abel Ferreira. Lisboa. Guimarães Editores.


Sofia Mesquita

Instituto de Imersão Cultural – Stay to Talk